sábado, 28 de outubro de 2023

MÃOS

 


Falá desses cinco dedo

qui num têm valô nem nada,

isso é, num têm valô

pruque é mão calejada

do negro que já passô.

E nessa sociedade

adonde impera a mardade

e a farsidade chegô

só tem valô quem tem nome

quem tem um curso de fome

vale é nada sim sinhô.

Falá dessas mão cansada

qui num tem ané nem nada

ané de grau de dotô,

inté crime deve sê,

falá dessas mão cansada

que nem se ajeita escrevê.

Mas essas mão, seu dotô,

que as vez pede uma esmola

pra aos tranco eu podê vivê,

já tocô munta sanfona

pra gente “grande” dançá,

já revorveu munta terra

pras coisa boa prantá,

pro seu dotô na cidade

de ané no dedo comprá.

Já seu dotô, já fez rede

pro sinhô se balançá,

foro essas mão calejada

que munta cruz fez na estrada

pra sepurtura marcá.

Foro essas mão, seu dotô

que já coieu munta frô

pru seu salão enfeitá.

Foro essas mão sem valia,

essas mão sem sevrentia

que hoje pra nada presta.

Que o sinhô diz que num presta

pruque tá véia e cansada

pruque se estende a uma esmola.

Foro essas mão seu dotô,

que fez casa pra vancê,

que pra vancê fez escola.

Foro essas mão, seu dotô,

essas mão abrutaiada

que inté já coieu uma rosa

pra Sabina dedicá,

Pois essas mão calejada,

essas mão sacrificada

já teve quem carinhá

essas mão selô cavalo

pra coroné passeá.

Foro essas mão, seu dotô,

que prantô munto café,

que limpô, coieu, torrô,

e hoje pra nada presta

Preto véio vale nada

pois o seu tempo passô,

e preto véio cansado

num tem patrão nem valô.

Mas essas mão, seu dotô,

munto embora já cansada

cheia de calo da enxada

que o tempo nunca desfez,

é mão limpa de vredade,

num é dessas mão covarde

que só armada é valente.

É mão de cabra decente.

Num é dessas mão bunita

mas que se esquece no jogo.

Não, seu dotô, essas mão

nunca teve essas noção

de cheque farsificá.

É, seu dotô,

essas mão

têm o direito e a razão

de à noite a Deus suplicá.

Pruque é bom, seu dotô,

sem nome,

o cabra caí de fome

sem um pedaço de pão.

Pode inté morrê na estrada,

porém morrê como home,

com as mão feia, calejada

com as mão cansada da vida,

com as mão vazia, sem nada

esmolejando um tostão.

Mas dotô,

com Deus no peito e na alma

e um pouco de Deus nas mão.


quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Convicção


Ainda vou te conquistar...

eu não sei quando

e quanto tempo vai durar

essa conquista

e não insista

em dizer que não vai dar,

porque eu vou

te conquistar.

Demore cem,

duzentos

ou até trezentos anos,

eu te coloquei

dentro dos planos

e vou te conquistar.

Se for preciso

mergulhar

no oceano mais profundo

e a pérola mais rara

desse mundo

eu conseguir pra te ofertar,

pra te provar

que te amo tanto,

vou mergulhar

e te garanto

que vou te conquistar.

Se for preciso

ir buscar alguma estrela

e trazê-la na mão

brilhando ainda.

Se for preciso ir buscar

a flor mais linda

que eu nem sei

onde encontrar,

vou me virar

vou procurar

e vou te dar,

e vou te conquistar.

Se for preciso

ir ao Papa, ao Presidente,

ao onipotente de Moscou

eu vou

e vou te conquistar.

Imagines o impossível,

o intransponível

eu vou realizar.

Eu vou transpor

por amor

o que é que eu não consigo

quando quero,

passe o tempo

que passar.

Eu brigo, espero

e vou buscar.

É uma questão

de vivência,

de experiência.

São teus olhos

que me dizem

com esse jeito

de me olhar

que ainda vou

te conquistar.

E por isso, minha amiga,

passe o tempo que passar,

gire o mundo

tantas voltas

que tiver para girar,

e que siga o teu caminho,

e que eu siga o meu caminho,

que me custe o que custar,

por favor, pode anotar

que mais tempo ou menos tempo,

mesmo havendo contratempos,

ainda vou te conquistar!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

As flores do caminho


 As flores do caminho perfumam e embelezam .

As flores trazem essa tarefa enquanto duram.

As pessoas também.

Durante a trajetória precisamos ser suaves como as flores e felizes como um botão

que percebe a oportunidade de cumprir a tarefa e se doa por inteiro quando é flor.

E o mais é agradecer por tudo o que somos.


(In: Contemplando Estrelas)

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

FLOF - 2022

 

No último dia 15 de outubro, a Oficina de Estudos da Arte Espírita realizou a segunda edição da FLOF (Festa Literária da Oficina).

O evento, que contou com diversas atividades musicais, feira de livros, workshops e apresentações diversas, celebrou a vida e obra do poeta JOÃO PRADO.

Houve uma performance com o poema "O menino que carregava água na peneira", de Manoel de Barros, oferecida a João como um presente de poeta para poeta.

Foi exibido o filme-documentário "João Prado - O Poeta do Otimismo" (ASSISTA AQUI), que emocionou a todos os presentes que cobriram o poeta de muito carinho. 

Na sequência, nosso poeta recebeu diversas pessoas no espaço do Café Cultural.

Confira algumas imagens.

Com Glaucio Cardoso, curador da obra de João Prado.

João Prado recebe o carinho do músico e compositor Ariovaldo Filho.

Encontro de poetas: Nina Lisboa

Com Thiago Brito

"O menino que carregava água na peneira"
Homenageando João Prado pelas palavras de Manoel de Barros

Pura emoção!

Apresentação do documentário



O público atento ao documentário sobre a vida e obra de João

Com o também poeta Maurício Leal


domingo, 19 de junho de 2022

Moção Abrarte

 
O poeta João Prado foi o agraciado com a Moção de Reconhecimento da Associação Brasileira de Artistas Espíritas (Abrarte).  A Moção Abrarte é concedida anualmente como forma de homenagem e agradecimento a artistas espíritas cujo trabalho apresenta qualidade e importância dentro da história da Arte Espírita.



Você pode ver o momento da entrega da Moção no vídeo abaixo (a partir de 1h26m).


Medalha José Montes Paixão

 

O poeta João Prado recebeu a Medalha José Montes Paixão, uma comenda concedida pela Prefeitura Municipal de Mesquita (RJ), contemplando pessoas de destacada e reconhecida influência no desenvolvimento social da cidade. 

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Eu preciso mudar



Eu preciso mudar

Não mudar de endereço 

Reduzir minha zanga 

Crescer o meu apreço 

Dizer o que eu 

Gostaria de ouvir.

Eu preciso mudar 

Eu preciso existir 

Controlando a emoção 

E ao o invés de uma espada 

Uma rosa na mão.

Eu preciso dizer de verdade: 

Estou com saudade 

Apareça, vem  cá 

Me dá um abraço 

Sujinho, rasgado 

Um abraço apertado 

Do jeito que dá.

Eu preciso mudar 

Reduzir as centelhas 

Invejar as abelhas 

Com o mel do meu peito.

Eu preciso mudar 

Rever os meus conceitos 

Eu preciso buscar 

Essa paz das ovelhas 

É urgente tirar 

A fuligem das telhas 


João Prado

25/04/22