terça-feira, 12 de abril de 2011

A RUA SEM PAR

A rua que eu moro é uma rua tão calma
Calma com a alma dos poetas sonhadores,
Dos pintores.
Rua das velhas cantigas,
Das horas antigas,
Das almas antigas,
Das casas antigas.
Antigas, mas belas,
Singelas, rosas,
Azuis, amarelas
Com tantas janelas
E em cada janela
Uma bela mulher  sorrindo a cantar.
Rua sem par...
Ruas dos lampiões,
Dos velhos lampiões,
Rua das canções,
Rua dos violões,
Rua da serenata que em noite de prata
A lua tão grata se punha a escutar.
Rua dos vendeiros cansados,
Suados, arcados
Com o cesto à cabeça
Gritando, gritando:
“Laranja da China!
Melão, tangerina!”
E os doceiros
“Cuscuz, rapadura, cocada!
Quem tem dinheiro compra
Quem não tem não compra nada!”
E lá iam eles pelas calçadas
E a meninada em disparada
Corria a comprar.
Rua sem par...
Rua do cinema,
Rua do fórum,
Rua da escola municipal,
Rua da Catedral
Lá no final do coqueiral.
Domingo de missa...
Domingo tem missa?
E alguém perguntando
E o sino badalando no instante a seguir:
“Domingo tem! Domingo tem!
Domingo tem! TEM! TEM! TEM!”
Rua das diligências
Em que as excelências passavam importantes,
Elegantes em várias direções.
Rua das mil recordações,
Rua fiel de encantar,
Rua sem par!
Rua da feira
Moleques brincando,
Poetas sorrindo,
Mulheres comprando,
O sol ressurgindo,
Pardais revoando,
Flores se abrindo,
Barcos voltando!
Rua da praia
Da praia pequena, morena,
Serena, queimada de sol.
Rua de escol!
Rua do branco, do negro,
Do pobre, do rico.
Rua de Deus que por Deus
Foi criada,
Rua encantada onde hei de encontrar
O poeta encontrou
Hei de andar, hei de andar,
Hei de um dia chegar,
Hei de um dia criar
A rua de Deus,
A rua do amor,
A rua sem par!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

VERSOS EM RECONSTRUÇÃO

Todo mundo tem reserva de coragem,
lá no fundo.
Corre, busca Deus depressa
é a reserva deste mundo.
Oi você que anda triste,
cansado da vida.
E que acha comprida
essa vida, sem graça.
Oi você que não passa
da imagem sofrida
tendo de sobra pra dar
tanta raça.
Oi você que soluça
se o amor foi embota,
e chora,
e se gasta no fundo da vida.
Oi você que caminha
na larga avenida
Alheio ao progresso
do mundo gigante.
Oi você que procura
talvez nesse instante
a mesa do bar
ou a soda fatal.
Oi você que cansou de esperar
desperta afinal que a festa há de vir.
Se existe um motivo
pra gente chorar,
há mil pra sorrir.
Segura a viola
e segue meu canto,
foi feito na raça.
É o canto que fica,
a dor depois passa,
e o importante é se dar
pro que fica depois.
Oi você que quisera
ser dois pra lutar,
sua força é de dois,
basta crer e enfrentar.
Toca o barco sozinho
e na hora do vinho
alguém vem pra ajudar.
Oi você que se julga
tão só nesse mundo
e um tédio profundo
carrega no peito,
dá um jeito na vida,
procura no fundo
esse Deus feito raça,
esse arrojo que é feito
de amor e otimismo,
que é feito de empenho,
de fé, de altruísmo,
as armas mais fortes
pro homem lutar.
Faça um samba do pranto
e aproveita esse canto
que é bom pra sonhar.
Oi você, oi você,
oi você, oi você,
vem comigo cantar
e sorrir de uma vez.
Oi você, oi você,
oi você oi vocês.