quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PESCADA


O Juca juntou canoa,
a coragem, o arrastão.
Pôs raça dentro do peito,
pôs fibra dentro da mão.
Beijou a mulher e os filhos
e saiu pro mar adentro
com ideia de trabalhar.
Foi remando, foi remando,
e o mar balançava o Juca
feito rede balançando.
E os magros filhos do Juca,
mania de beira mar,
ficaram fitando o barco
do pai Juca se afastá.
Veio o sol, findou-se a lua,
outro sol já foi-se embora.
Outro sol deixou nas ruas
as carícias de outra aurora.
Outra lua dentro d’água,
vão-se os dias, mas vem nada.
E o pai Juca até agora
não voltou lá da pescada.
O mar se zangou por nada.
Pescador morreu no mar.
Foi buscar sobrevivência,
e com toda experiência
não se logrou de salvar,
Pai Juca morreu no mar.
Navegou pro mar adentro
e perdeu-se pelas águas,
tal e qual o sol se perde
quando a noite vem chegando.
Quem olhasse o mar depois,
veria dois,
o mar e o homem.
Veria o mar brincando
e o homem se balançando
nas águas verdes do mar.
Faltava vida no Juca,
mas sobrava paz no olhar.
O mar é igual a gente,
que se zanga de repente,
que se agita, que se encrespa,
que sacode, que se explode,
mas depois vem se humilhar.
Beija agora os pés dos filhos
tentando se desculpar.
O mar é feito o destino,
pra onde, bem feito gente,
rola o rio sem parar.
E se as flores dos caminhos
convidam pra descansar,
o rio logo responde:
Não posso, já vou pro mar.
O mar é feito a mulher
que consegue quando quer,
o que quer pelos caminhos.
Se agiganta pra vencer,
se venceu, fica mansinho
e espalha pelas areias
um muito de seus carinhos.
Mar de vida, mar de morte.
Mar que traz gente sorte
com dinheiro pra gastar.
Mar, caminho de navio
que esqueceu esse vazio
justamente no lugar
de onde alguém partiu chorando
com saudade de ficar.

Mar do Juca que dizia
no raiar de cada dia:

é doce viver no mar.