quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Duas almas
















Pelos sonhos meus de alma enobrecida
De coração magoado prestes a sucumbir
Esvai-me esta oração no limiar da vida,
Pois minh’alma se enobrece ao te fazer sorrir.

Toda a ambição e os anseios meus
É dar a própria vida sempre em teu louvor,
É dar toda a existência pelos sonhos teus,
O próprio sacrifício pelo teu amor.

É ver você sorrir, embora eu caia em prantos,
Sofre a vida toda, mas te ver feliz.
E meu amor é imenso e eu te quero tanto
Que sorrio ao ver sorrir quem não me quis.

Mas saiba que pelo orgulho que a domina,
Pelo amor que me corrói e me fascina,
Duas vidas morrem apaixonadas.

Mas uma voz me tange inesquecida
E seremos sempre nesta vida

Duas pobres almas bem desencontradas.

(poema extraído do livro inédito "Castelo de Ilusões")

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Homem Feliz


No peito de um poeta amargurado
abriu-se um céu,
um céu feito de azul
todo estrelado.
Troquei meu coração
por uma estrela,
eu dei o que era meu
pra quem sorriu
e então floriu de rosas
onde eu sigo.
Quem quiser
faz abrigo do seu peito
e na estrela de um peito
encontra abrigo.
 
Eu, pra ter rosas na vida,
fiz espadas dos espinhos,
troquei pedras por estrelas
nesse céu que era caminho.
 
Quem tem medo de se dar,
por temor de se perder,
vai perder de se encontrar.
 
Quem não sabe o que é viver
vai ganhar alguma estrela,
vai achar o sol num riso
de uns olhinhos na janela,
só então vai compreender
porque é que a vida é bela.
 
Quem quiser dessas estrelas,
posso dar, sou dono delas;
as ganhei quando buscava
nesses olhos nas janelas
o meu sol de todo dia,
só achei o que eu buscava
nesses olhos de Maria.
 
Maria, quando o sol morre,
sai sorrindo pro portão
com resto de sol na face;
com isto a noite começa,
na terra uma estrela nasce
e o céu se borda de estrelas
como se a terra invejasse.
E os olhos dela buscando
o céu de estrelas coberto;
a lua quando os divisa
fica até meio indecisa
se nasceu no lugar certo.
 
Quem quiser felicidade,
quem pretende andar sorrindo,
busca um céu supremo e lindo
se entende de cativar.
Vai busca a sua estrela
se tem raça pra buscar.


quarta-feira, 2 de março de 2016

Favela pra quem não sabe


Quando se fala em favela
tem muita gente que pensa
que favela é só muamba,
malandro, escola de samba.
Barraco quase caindo,
nêgo brigando na rua,
moleque magro, sumindo,
menina rasgada, nua.
Mulher disputada à faca,
menina moça perdida
e farra em cada barraca;
gente vazia na vida.
Quando se fala em favela
tem muita gente que pensa
que é só rodas de sueca
meninas que nem calculam
que já existe boneca.
Quando se fala em favela
o seu doutor imagina
varíola, febre amarela
e um malandro
em cada esquina
na espreita, pra se vingar.
Quando se fala em favela,
é comum imaginar-se
a gíria, miséria, fome,
moleque que nem tem nome
nem sabe quem é seu pai.
Só sabemos de quem cai,
só lembramos da perdida,
só conhecemos quem vai
sem pretender a subida.
Favela, pra quem não sabe,
é este lugar de gente
que tem raça pra viver.
é o lugar onde se sofre
e não faz conta esse sofrer.
Favela, pra quem não sabe,
é somente a sociedade
sem complexo e vaidade,
é o amor sem etiquetas,
é o branco sair com preta,
é toda gente ser pobre
sem com isso se importar.
Favela pra quem não sabe,
é onde se enxuga o pranto
cantando o samba de enredo,
é o guri ser bem feliz
com restos de algum brinquedo.
Favela, pra quem não sabe,
é o barraquinho de zinco,
é o casal já tendo cinco
deixando um outro nascer
“vai nascer se Deus quiser,
Deus dá jeito pra viver”.
Favela pra quem não sabe,
é um barraco de madeira
feito de qualquer maneira
pra caber felicidade.
É o conforto de uma esteira
onde os dois a vida inteira
querem filhos de verdade.
Favela pra quem não sabe,
é alguém ser bem feliz
com alguém que nada tem,
teve um coração pra dar,
teve uma rosa também.
Favela pra quem não sabe,
é o poeta do barranco
transcrevendo a sua dor
pra gente cantar no asfalto,
vai ver um alto partido
vibrar com partindo alto.
Favela pra quem não sabe,
é o guri do amendoim
que levou o ano inteiro
pra juntar algum dinheiro
mas vai sair lá na escola
sorridente, de cartola.
A favela que é miséria, indecência
talvez seja a consciência
de muita gente frustrada
que se julga requintada
porque às vezes tem poder.

Vai na favela doutor,
vai na favela aprender
que a gente que sobe o morro
carregando lata d’água
tem raça pra batucar
na lata, quando descer.
Vai na favela doutor,
vai na favela aprender
que um barraco de madeira
é bastante pra viver.
Vai doutor, vai na favela,
vai olhar pela janela
de um barraco o que é viver.
Vai na favela doutor,

vai na favela aprender.