segunda-feira, 26 de março de 2018

Limite



E agora seu moço
que você já chegou
lá no fundo do poço
no finzinho da estrada?
Mas que fundo que nada:
o fundo é mais fundo,
a dor é mais forte.
Tem gosto, tem cheiro
tempero da morte.
Você pensa que é o fundo,
e ainda que fosse...
Faz de conta
que tudo na vida acabou-se
não há sol, não há céu,
não há mais horizonte.
Não há brilho nos olhos
nem água na fonte
nada mais pra buscar,
nada mais pra cair.
E daí? E daí?
Serve o fundo de base
pra gente subir.
Serve o fundo de apoio
e o impulso há de vir;
vez em quando é preciso
de um tombo lição.
Serve o fundo de estágio
para reflexão.
Você vai cabisbaixo
distante, sem fala.
Você vai se arrastando
no bloco da vida.

Convida a alegria
pra dar uma pala,
convida a esperança
para vir colorida,
dispensa essa angústia
demais caprichosa,
e diz ao otimismo
para vir, sem cuidado.
Convida a ternura
para um dedo de prosa
e avisa a tristeza
“ingresso esgotado!”
Mas levanta esse astral.
Quando a vida da gente
se torna indecisa
é que a gente precisa
fazer carnaval.
E lutar, e vencer,
e provar
que é gigante.
Se é preciso crescer,
que se cresça o bastante
pra trazer as estrelas
na palma da mão,
a cabeça no céu
e os pés firmes no chão.
É possível, seu moço,
basta revolução.
Se já deu pra saber
tua estrela caída,
a receita pra vida
é determinação.