sexta-feira, 29 de agosto de 2014

CAPIM MELADO


Coitadinho do capim,
pois cresceu exatamente
entre as flores do jardim.

Aproveitou a doença
do jardineiro, coitado,
trinta dias de licença
e cresceu por todo lado.

Cresceu por todo o canteiro,
pelos caminhos também,
tal qual um moleque arteiro
aprontou como ninguém.

Mas quem mandou o maroto
invadir o espaço alheio?
Matou plantinhas no broto,
espalhou-se sem receio.

E o jardineiro, curado,
voltou para trabalhar.
E o capim desconfiado:
O que é que vão me aprontar?

E o jardineiro aprontou.
Cuidou de todo o jardim,
de cada planta tratou,
retirou todo o capim.

Por fim ficou a lição:
invadir o espaço alheio
sempre traz complicação.

Mas enfim

Coitadinho do capim...

terça-feira, 8 de julho de 2014

O PALHAÇO CHEGOU

O palhaço chegou.
Maria abra a porta,
o palhaço chegou,
o palhaço, Maria.
E o sereno que cai
vai lavando-me a cara,
não cessa, não para.
Maria, abra a porta,
a noite está fria.
Como é engraçado,
Maria, o telhado,
molhado,
escorrendo por cima
de mim.
E o sereno não passa
e eu cheirando à cachaça
vou batendo na porta,
e você nem assim;
ainda finge estar morta,
nem liga pra mim.
O palhaço chegou,
Maria, abra a porta,
o palhaço chegou,
o palhaço, Maria.
Como é engraçado;
eu com sono danado,
com fome, cansado
e Maria dormindo
não escuta eu bater.
Daqui a pouco
eu me invoco
e sufoco num copo
o meu agro sofrer.
O palhaço chegou,
Maria, abra a porta,
o palhaço chegou,
o palhaço, Maria.
Aha-há-há-há-há...
De que é que estão rindo?
Do palhaço que sou?
Das pancadas inúteis
na porta que eu dou?
Ou da minha fachada?
Se é briga que querem,
venham todos,
eu enfrento.
Se vierem todos
parar aqui dentro,
eu vou vazar pelos fundos
sumindo na estrada.
 
Ninguém tem o direito
de rir,
só Maria.
Só Maria é que pode
rir do palhaço,
do palhaço que sou.
Maria, abra a porta,
abra a porta, Maria;
o palhaço chegou.
Maria, Maria.
Amanhã vou comprar geladeira
e uma TV pra nós dois sozinhos
assistirmos aos grandes programas
sem ser mais preciso
ir ver nos vizinhos.
Maria, Maria.
O que é que se passa?
Será que a cachaça
roubou o amor
que você possuía?
Antigamente brigávamos,
bem sei, é verdade,
mas depois de eu bater
de uma noite a metade,
a porta se abria.
Tu fingias zangada
e deitavas calada
sem me dar nem bom dia,
também era noite,
mas nem boa noite me davas.
Mas no fundo, Maria,
tu gostavas de mim
e a mim perdoavas.
E hoje a porta trancada,
cerrada, malvada,
não abre, por quê?
Eu bebo na rua,
os amigos me pagam,
mas depois
os amigos me chutam,
só quem me atura é você.
Maria, abra a porta,
abra a porta depressa,
estão rindo aqui fora
do palhaço, Maria,
do palhaço que é teu.
Maria, eu prometo,
se abrires agora,
esta noite, Maria,
foi a última noite
que o palhaço bebeu.
Maria, não deixa
eu dormir na calçada,
se não vem o guarda
e leva-me preso
e todos vão rir:
“O palhaço cachaça
foi preso na rua,
pau d’água não tem
amores, nem casa,
nem onde dormir.”
Todos hão de sorrir,
hão de se divertir
com o palhaço que sou.
Maria,
não precisa,
deixa a porta fechada,
vem surgindo a alvorada,
a noite passou.
Quando eu digo palhaço,
você ri, me critica,
mas vê bem se não fica
certinho: palhaço!
 
O palhaço bateu,
chamou, te implorou;
novo sol já raiou
e Maria dormindo
não escuta eu chamando,
batendo e dizendo:
o palhaço chegou!

quarta-feira, 12 de março de 2014

João Prado no Anuário Espírita

Os admiradores da obra de João Prado têm um motivo de júbilo neste mês de março: a edição 2014 do Anuário Espírita (uma publicação do Instituto de Difusão Espírita) traz o belo poema "Prece" de autoria do nosso poeta.
O Anuário Espírita é uma das mais tradicionais publicações espíritas do Brasil, sendo lançado anualmente e sem interrupções desde 1963!
A inclusão de nosso poeta na presente edição se deu por iniciativa do colaborador do Anuário Prof. Glaucio Cardoso que ainda escreveu um breve texto sobre o poeta e a obra.
Confira abaixo o poema "Prece":


Senhor,
Não fora esta beleza de Doutrina
com a certeza da reencarnação.
Não fora esta verdade cristalina,
a fé abalizada na razão.
Não fora esta verdade feito luz,
o que seria de mim, Senhor Jesus?
Talvez seria eu amargurado
e  revoltado com a minha condição.
Eu tenho aqui no peito um coração
que sofre com as agruras do caminho.
Ah! Como é doído ver o irmão
trôpego, cansado e tão sozinho.
Como é doído, Senhor, que mal me faz
tanto sofrimento e tanta dor
que eu sei proliferar nos hospitais.
As drogas circulando pelas veias,
crianças maltrapilhas nos caminhos
e homens revoltados nas cadeias.
E há lares, Senhor, em que ao invés da paz
os pais não compreendem mais os filhos,
os filhos não compreendem mais os pais.
Como é doído, Senhor, mas eu entendo.
E vejo isso até com otimismo.
Como é possível, Senhor?
Eu andei lendo
O Evangelho Segundo o Espiritismo
Ali fala de amor, fraternidade,
Resgate, compromisso, expiação;
e lembra-nos da oportunidade
que é dada a cada um, Reencarnação.
E como compreendo este processo
de dor, de sofrimento, de agonia,
é próprio e elementar para o progresso
num franco burilar, dia após dia.
E  aprendi, Senhor, no ensinamento
que dependendo da força de vontade
eu posso minorar meu sofrimento
com a prática do bem, da caridade.
Por isso te suplico que esta prece
atinja os lares cheios de aflição
e chegue ao coração de quem padece
em forma de conforto e redenção.
Que cônscio da responsabilidade
em cada  sofrimento achemos luz.
Dá-nos tua paz por caridade
Dá-nos tua paz, Senhor Jesus!     


O Anuário Espírita 2014 pode ser adquirido no site www.idelivraria.com.br