E atenção, vai
ser dado
o terceiro sinal
“tem, tem, tem.”
E no circo repleto
um povo seleto
em suspense
aguarda
o espetáculo de
estrela.
Na arquibancada
vê-se estampada
a ânsia normal
da platéia.
Picolés e
sorvetes
lambuzam
sorrisos
e as pessoas se
apressam
em passos
precisos
preenchendo os
escassos
lugares que
restam.
O circo, sei lá,
tem um “quê” que
fascina.
A lona e o
astral
que afinal
predomina,
um ar de magia
e encanto
emprestam.
E anuncia,
afinal,
o espetáculo,
um senhor
sorridente
e a orquestra
afinada
principia a
noitada
tocando um
dobrado
contente.
E rufam os
tambores
e os atiradores
e os mágicos
e os
equilibristas
senhores
artistas
e as bailarinas
e os dominadores
nos picadeiros
desfilam
sobre os faróis
multicolores
dos refletores.
Mas embora o
espetáculo
comece tão bem
nota-se a falta
de alguém,
a alegria do
circo.
Algo está
faltando no espaço
em meio aos
suspenses normais
falta a alegria,
falta o sorriso,
falta o
palhaço...
e o palhaço não
pode faltar.
Mas onde o
encontrar?
no camarim o
palhaço querido
sozinho soluça
um romance
rompido.
Mas que coisa
engraçada!
O palhaço ao invés
de fazer
palhaçada
está chorando
num canto.
Esvaindo-se em
pranto
sofrendo a
tristeza
que aos poucos o
abate.
O palhaço
chorando!
Mas que
disparate
que coisa
anormal!
E o pranto
rolando
e lavando o
alvaiade
em gotas
sinceras
de infelicidade
de um palhaço
real.
Nisto surge o
empresário
que autoritário
repreende sem
pena
o querido
palhaço.
E este, com uma
lágrima
tremida
perdida na face
como se a um
pranto
quase incessante
cortasse,
parou de chorar
e quase sorriu.
Ajeitou a
pintura manchada
na face marcada
e então
mascarada.
E para o velho
e vulgar
picadeiro, partiu.
E a alegria foi
grande
na sua chegada.
E os bravos e
vivas
da gente
encantada.
Hoje tem
marmelada?
Tem sim senhor!
Hoje tem
goiabada?
Tem sim senhor!
Hoje tem
espetáculo?
Tem que ter sim
senhor.
Assim somos nós
em momentos da
vida;
às vezes a dor
do pulsar da
ferida
castiga tão
forte
que a morte é um
bem,
mas a força-empresário
lá dentro da
gente
precisa ser
sempre
gigante,
pungente
gritando pra
gente:
Além, vai além.
E a gente se
veste
palhaço pirraça
fazendo de conta
que o pranto é
chalaça
e tocamos a vida
do jeito que for
o peito doendo
a cara pintada
o pranto rolando
fazendo piada
Se é preciso
espetáculo,
Tem sim senhor!