segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Se é preciso espetáculo... Tem sim senhor!



E atenção, vai ser dado
o terceiro sinal
“tem, tem, tem.”
E no circo repleto
um povo seleto
em suspense aguarda
o espetáculo de estrela.
Na arquibancada
vê-se estampada
a ânsia normal
da platéia.
Picolés e sorvetes
lambuzam sorrisos
e as pessoas se apressam
em passos precisos
preenchendo os escassos
lugares que restam.
O circo, sei lá,
tem um “quê” que fascina.
A lona e o astral
que afinal
predomina,
um ar de magia
e encanto emprestam.
E anuncia, afinal,
o espetáculo,
um senhor sorridente
e a orquestra afinada
principia a noitada
tocando um dobrado
contente.
E rufam os tambores
e os atiradores
e os mágicos
e os equilibristas
senhores artistas
e as bailarinas
e os dominadores
nos picadeiros desfilam
sobre os faróis multicolores
dos refletores.
Mas embora o espetáculo
comece tão bem
nota-se a falta de alguém,
a alegria do circo.
Algo está faltando no espaço
em meio aos suspenses normais
falta a alegria,
falta o sorriso,
falta o palhaço...
e o palhaço não pode faltar.
Mas onde o encontrar?
no camarim o palhaço querido
sozinho soluça
um romance rompido.
Mas que coisa engraçada!
O palhaço ao invés
de fazer palhaçada
está chorando num canto.
Esvaindo-se em pranto
sofrendo a tristeza
que aos poucos o abate.
O palhaço chorando!
Mas que disparate
que coisa anormal!
E o pranto rolando
e lavando o alvaiade
em gotas sinceras
de infelicidade
de um palhaço real.
Nisto surge o empresário
que autoritário
repreende sem pena
o querido palhaço.
E este, com uma lágrima
tremida
perdida na face
como se a um pranto
quase incessante
cortasse,
parou de chorar
e quase sorriu.
Ajeitou a pintura manchada
na face marcada
e então mascarada.
E para o velho
e vulgar picadeiro, partiu.
E a alegria foi grande
na sua chegada.
E os bravos e vivas
da gente encantada.
Hoje tem marmelada?
Tem sim senhor!
Hoje tem goiabada?
Tem sim senhor!
Hoje tem espetáculo?
Tem que ter sim senhor.
Assim somos nós
em momentos da vida;
às vezes a dor
do pulsar da ferida
castiga tão forte
que a morte é um bem,
mas a força-empresário
lá dentro da gente
precisa ser sempre
gigante, pungente
gritando pra gente:
Além, vai além.
E a gente se veste
palhaço pirraça
fazendo de conta
que o pranto é chalaça
e tocamos a vida
do jeito que for
o peito doendo
a cara pintada
o pranto rolando
fazendo piada
Se é preciso espetáculo,
Tem sim senhor!