Se onde há ódio, Senhor,
Que eu leve amor,
Que eu leve na bagagem
Muito amor por onde eu for.
Um amor descomplicado
Sem senões, sem preconceito.
Um amor ainda imperfeito
Burilando no caminho,
Mas amor que eu sozinho
Necessito burilar.
Se onde há ódio, Senhor,
Que eu leve amor,
Onde há espinho, senhor,
Que eu levo a flor,
Mas a flor que eu for levar
É preciso ser colhida,
Necessário que essas mãos
Sejam muito merecidas
De colher para ofertar.
Onde haja ódio, Senhor,
Que eu leve amor,
Mas que eu tenha a noção
Que na vida a gente cresce,
Em amor se reconhece
A grandeza do perdão
E perdoa por amor
A ofensa e a ingratidão.
Onde há ódio, Senhor,
Que eu leve o encanto,
Mas que eu possa me encantar
E poder secar o pranto
De quem chora tanto, tanto,
Sem saber recomeçar.
Onde há ódio, Senhor,
Que eu leve amor,
que eu tenha um argumento
Bem guardado, cá no fundo,
E que eu sirva de instrumento
E falar com sentimento
Da doçura desse mundo.
Onde há ódio, Senhor,
Que eu esteja preparado
E levar do meu amor
E falar do teu legado
Nas andanças onde eu for.
Aí sim, onde houver ódio,
Que eu possa levar amor.