segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O SOL DE UM RISO

 



E o sol nasceu
na curva do caminho
quando os lábios dela
despontaram rindo.
Quem ama espera
e esperar é lindo
se a gente espera
pelo que virá.
Quem ama busca
para se encontrar.
E qualquer rosa
que murchou na espera
com o calor
e com o pó da estrada
é uma ternura
para quem procura,
pra quem não ama
é uma flor, mais nada.
Lá vem o sol
na tardinha mansa,
no riso dela
pela estrada afora,
é o sol que nasce
quando a tarde finda
e a noite ainda 
não se foi embora.

 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Vida em Poesia

 


O poeta João Prado foi o convidado do 87º encontro do Grupo de Estudos Arte e Espiritismo, transmitido no Canal Abrarte Oficial.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O SOL NÃO TEM GUARDA-CHUVA

 

Creio que o sol

não tem guarda-chuva

nem capa;

se chove

ele logo se esconde.

Será que ele fica

em casa dormindo?

E se acaso tem casa,

também não sei onde.


Ele é tão bobinho,

não sabe o que é bom:

brincar numa chuva,

ficar bem molhado,

sapato encharcado,

meu Deus, ATCHIM!

O risco que tem

é pegar resfriado.

 

Mas vale a aventura,

o risco compensa!

Pra mim o sol tem razão:

se o meu corpo quente

me faz resfriar,

coitadinho do sol,

que resfriadão!


DESENHOS PARA SALVAR, PINTAR E SE DIVERTIR



segunda-feira, 27 de julho de 2020

Transformação



Boa noite!
Boa noite!
Boa noite!
Senhoras e senhores.
Desculpe-me atrapalhar
o seu lazer,
mas o que eu trago
para oferecer
é de encantar.
E quem comprar
não irá se arrepender.
Desiludi-me
entreguei-me a um cansaço,
um fracasso.
Quero dizer
que eu trago
para vender
toda a minha roupa de palhaço.
Esta calça aqui coitada,
tão surrada
foi minha companheira
de jornada.
Ah! Lembro-me ainda.
Foi em uma tarde linda
que eu andei
de loja em loja
sol a sol.
Nas lojas da cidade
do arrebol
para comprar este tecido
fascinante,
colorido
extravagante.
E na imaginação
propunha-me a brincar
bem comovido
com a emoção
e as lágrimas de alegria
pipocarem na amplidão.
Uma aqui, outra ali
feito bolas de sabão.
Umas explodindo
e outras surgindo
em profusão.
Eu percebia
que tinha essa missão.
Era assim que eu via a vida
quando comprei
essa calça colorida.
E lembro-me de uma vez.
Muito engraçado:
Eu dei um salto
já tantas vezes dado
ensaiado, repetido
acostumado.
Um salto atrapalhado
onde eu caía
bem desengonçado.
Um salto que afinal
me consagrou.
Naquele dia...
a calça se rasgou.
Ah! Eu fiquei desesperado,
apavorado.
Eu não sabia o que fazer
pensei correr.
Senti um nó.
Mas numa gargalhada só,
o circo inteiro
sorria e me aplaudia
pensando que era um truque
corriqueiro.
Esta calça aqui.
envelhecida
tão surrada
feito gente
que viveu bastante a vida
e agora
é o fim da estrada.
Tenho esta blusa azul,
Esta amarela
Bonitas não são?
Esta é a mais bela.
Ambas vestiam enfim
meu coração.
E ouviam o tic-tac,
a explosão,
o vulcão
que havia aqui dentro do peito,
o jeito,
a sensação,
a gostosa sensação
que me inundava
enquanto o circo inteiro
gargalhava
Estas peças aqui
queiram por favor
examiná-las.
O preço é bagatela
e quem comprá-las.
Decerto ainda carrega
uma emoção,
Eu não.
Sabem de cor
as cores do arco-íris,
Nem me lembro mais;
ainda se encantam com as estrelas,
Tanto faz
tê-las, não tê-las
tanto faz.
É cem reais,
é cem reais
é cem reais.
O que? Parecem caras?
Valem mais
se eu falar
de toda nossa trajetória.
Se eu contar pra vocês
a nossa história.
Quantas lágrimas secamos?
Quantos sorrisos arrancamos
de rostinhos magistrais?
Mas o tempo da ternura
já passou.
A era do circo terminou.
Foi bom enquanto durou
tempos atrás.
É cem reais.
é cem reais.
Qualquer peça
somente cem reais.
É cem reais.
Olhem!
Uma criança com uma rosa.
Que momento mais bonito!
O que? É para mim?
Não acredito!
É para me ofertar
de coração?
Então,
a ternura não morreu?
A canção de amor
não se perdeu?
O jeito cordial
e prazenteiro?
É tempo de sorrir
saltar no picadeiro.

A vida continua
mágica e garbosa.
Ganhei uma rosa
das mãos de uma criança.
Isso significa
amor e esperança.
Que mais preciso ter?
É tempo de sorrir.
E tempo de viver.
É tempo de se dar
criar um salto novo.
Feliz de quem enxuga
as lágrimas do povo.
Podemos enxugar.
Senhoras e senhores
não há nada pra vender,
Há sim
o que se dar
pra receber
e se doar,
e compreender
que uma pitada de amor
faz renascer.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Motorista Inconsequente




Era uma vez um menino

tão travesso, tão traquino

que vez em quando sonhava.

Queria ser Presidente,

mandaria em toda gente.

Poderoso, imaginava.

Senhor da situação,

Bolsolino acreditava,

pra governar a nação

velocípede bastava.

Equilíbrio dispensava.

Decerto  nem precisava

de carta de direção.

Se o sinal fosse vermelho

fosse amarelo, atenção,

ultrajaria a verdade.

E o poderoso chefão,

do sonho à realidade,

assumiu a direção.

No abuso de autoridade

entrou pela contramão,

e à toda velocidade

atropelou a nação

mais que isso, na verdade,

a esperança e o cidadão.





João Prado

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Doce rotina




Não, não me convide,

Pois não posso.

Domingo

Eu vou cuidar

Dos passarinhos,

Rever as rosas,

Beber meus vinhos,

Ler o jornal

Notícia por notícia,

Cantinho por cantinho,

Sem pressa, sem afobação.

Vou me espreguiçar

Por meia hora,

Vou me debruçar

Por um bom tempo

No portão.

Bom dia, Dona Maria,

Melhorou da rouquidão?

Seu Nestor, deixa o cigarro,

Não faz bem pro coração.

Seu Roberto,

O chá deu certo.

Os meus respeitos,

Seu João.

Se alguém estiver sem pressa,

Quem sabe um dedo de prosa?

Conversa puxa conversa

E a vida flui vagarosa,

Sem me dar tempo pra nada.

Sem falar de uma soneca

Logo após a refeição.

Como vê, vida apertada,

Fui escravo do relógio,

Chefe, ponto, reunião,

Mas agora eu me permito

Nessa vida preguiçosa

E no meio desse agito

Descobrir em cada rosa

O perfume e a diferença.

Por enquanto, posso não,

Pode ser que em outro tempo

Lá por outra ocasião,

Mas, agora, com licença,

Vou cuidar dos passarinhos

Rever as rosas, beber meus vinhos,
Ler o jornal...

terça-feira, 31 de março de 2020

ESPERA



Aquiete o coração.
Quando o mundo diz espera
Muita gente desespera.
mas o mundo diz: espera,
Vai haver renovação,
Toda dor nos faz crescer.
Se é difícil compreender,
sabe Deus porque razão.
Vulneráveis nos caminhos
somos nós uns gigantinhos,
poderosos, sorridentes.
Eis porém que de repente
vem a dor na contramão
e a gente desespera
cabisbaixo, sem noção,
mas o mundo diz espera,
valoriza essa emoção.
Tudo é aprendizado,
sofre agora um bom bocado.
depois vem a Redenção!

João Prado
27/03/2020

terça-feira, 24 de março de 2020

CASTIGO



Hoje eu gostaria de abraçar
Mas não posso não
Fica o abraço
para outra ocasião
Fomos impedidos de abraçar e dar a mão
O momento é de mais reflexão
Quando poderíamos abraçar não abraçamos.
Quando poderíamos doar não doamos
E agora?
A solução?
Parece não haver mais horizontes
Fecharam- se os caminhos, nossas pontes.
Que saudade da emoção!
Do aperto de um abraço...
Coração mais coração...
Num só compasso.

Solidão!
Há notícia de um perigo ,
e a sensação
é que ficamos bem meninos
pequeninos
de castigo
sem saber porque razão.

               João Prado

                 24/03/2020

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Cinzas



Depois de tanta graça e alegria
Se guarda a colorida fantasia
É mais uma ilusão que se termina
Foram três dias que passei em sonho
E na quarta-feira acordei tristonho
Sem confetes, sem tamborim, sem serpentina
Eram cinzas, o sol já ia alto,
Eu ainda sentia o cheiro no asfalto
De um carnaval que viveu, mas que passou
E foi tão breve como é toda folia,
Pois fiquei só nas cinzas de agonia,
Foi-se o amor da alma tristonha que sonhou.
Nas cinzas o folião acha do lado,
Ao despertar, o vidro meio usado
Do lança perfume, os tamborins, a fantasia
E a minha quarta-feira de tormento
Eu encontrei ao despertar no aposento
As minhas cartas e as suas fotografias
A minha vida era um eterno carnaval
Era o mais belo, o mais risonho festival
Que eu vivi, que desfrutei, mas terminou.
As cinzas são mais tristes, foi-se a festa,
Na rua só os vestígios que se restam
De um carnaval que as ilusões todas arrastou
Os presentes e a aliança que lhe havia dado
Estava tudo a mim endereçado.
Nem precisava, eu já sabia a minha sina,
Mandou-me um bilhete sem ternura
Só uma frase sem carinho e sem candura
Aqui entre nós tudo termina.
Ela tirou a máscara, eu tirei a minha.
Eu que julgava ser um rei, ela rainha,
Tirava as tristes vestes de palhaço
E o destino que é ingrato, que é cruel,
Me fez passar por este sórdido papel
Que ainda sinto a dor amarga do fracasso.
Hoje não ouço o repicar dos tamborins,
Não há na rua os pierrots os arlequins,
É quarta-feira, tudo volta ao natural,
Tudo volta a tanger as criaturas,
A tristeza, a agonia, as amarguras,
O dissabor que não se foi com o carnaval.