Boa noite!
Boa noite!
Boa noite!
Senhoras e
senhores.
Desculpe-me
atrapalhar
o seu lazer,
mas o que eu
trago
para oferecer
é de encantar.
E quem comprar
não irá se
arrepender.
Desiludi-me
entreguei-me a
um cansaço,
um fracasso.
Quero dizer
que eu trago
para vender
toda a minha
roupa de palhaço.
Esta calça aqui
coitada,
tão surrada
foi minha
companheira
de jornada.
Ah! Lembro-me
ainda.
Foi em uma tarde
linda
que eu andei
de loja em loja
sol a sol.
Nas lojas da
cidade
do arrebol
para comprar este
tecido
fascinante,
colorido
extravagante.
E na imaginação
propunha-me a
brincar
bem comovido
com a emoção
e as lágrimas de
alegria
pipocarem na
amplidão.
Uma aqui, outra
ali
feito bolas de
sabão.
Umas explodindo
e outras
surgindo
em profusão.
Eu percebia
que tinha essa
missão.
Era assim que eu
via a vida
quando comprei
essa calça
colorida.
E lembro-me de
uma vez.
Muito engraçado:
Eu dei um salto
já tantas vezes dado
ensaiado,
repetido
acostumado.
Um salto
atrapalhado
onde eu caía
bem desengonçado.
Um salto que
afinal
me consagrou.
Naquele dia...
a calça se
rasgou.
Ah! Eu fiquei
desesperado,
apavorado.
Eu não sabia o
que fazer
pensei correr.
Senti um nó.
Mas numa gargalhada
só,
o circo inteiro
sorria e me
aplaudia
pensando que era
um truque
corriqueiro.
Esta calça aqui.
envelhecida
tão surrada
feito gente
que viveu
bastante a vida
e agora
é o fim da
estrada.
Tenho esta blusa
azul,
Esta amarela
Bonitas não são?
Esta é a mais
bela.
Ambas vestiam
enfim
meu coração.
E ouviam o tic-tac,
a explosão,
o vulcão
que havia aqui
dentro do peito,
o jeito,
a sensação,
a gostosa
sensação
que me inundava
enquanto o circo
inteiro
gargalhava
Estas peças aqui
queiram por
favor
examiná-las.
O preço é
bagatela
e quem
comprá-las.
Decerto ainda
carrega
uma emoção,
Eu não.
Sabem de cor
as cores do
arco-íris,
Nem me lembro mais;
ainda se
encantam com as estrelas,
Tanto faz
tê-las, não
tê-las
tanto faz.
É cem reais,
é cem reais
é cem reais.
O que? Parecem
caras?
Valem mais
se eu falar
de toda nossa
trajetória.
Se eu contar pra
vocês
a nossa
história.
Quantas lágrimas
secamos?
Quantos sorrisos
arrancamos
de rostinhos
magistrais?
Mas o tempo da
ternura
já passou.
A era do circo
terminou.
Foi bom enquanto
durou
tempos atrás.
É cem reais.
é cem reais.
Qualquer peça
somente cem
reais.
É cem reais.
Olhem!
Uma criança com
uma rosa.
Que momento mais
bonito!
O que? É para
mim?
Não acredito!
É para me
ofertar
de coração?
Então,
a ternura não
morreu?
A canção de amor
não se perdeu?
O jeito cordial
e prazenteiro?
É tempo de
sorrir
saltar no
picadeiro.
A vida continua
mágica e
garbosa.
Ganhei uma rosa
das mãos de uma
criança.
Isso significa
amor e
esperança.
Que mais preciso
ter?
É tempo de
sorrir.
E tempo de
viver.
É tempo de se
dar
criar um salto
novo.
Feliz de quem
enxuga
as lágrimas do
povo.
Podemos enxugar.
Senhoras e
senhores
não há nada pra
vender,
Há sim
o que se dar
pra receber
e se doar,
e compreender
que uma pitada
de amor
faz renascer.