sexta-feira, 13 de novembro de 2015

VIVER


Viver é tão fácil, no entanto
as pessoas conseguem
feito encanto
complicar.

Viver é crer,
se dar,
é ter
por conquistar,
é simplesmente
amar indistintamente.

Viver é o jogo maravilhoso
da ventura
de buscar em cada criatura
o lado bom,
o da virtude.
Viver é desatentar
pro lado rude,
pro imperfeito.
É colocar enfim
dentro do peito
fraternidade.
Viver é ter vontade
de descobrir em cada um
as coisas boas.
Se as pessoas fossem
do jeito que queremos
não seriam decerto
essas pessoas,
e com toda a razão.
A virtude consiste
em nós gostarmos das pessoas
do jeito que elas são.

Viver é abrir os braços,
o coração e a alma
e se dar
e se entregar
e se realizar
ao despertar um sorriso
no rosto amargo, enfim
de quem precisa.
Como a rosa
que brota da terra
onde se pisa;
como o sol
mais bonito
depois da tempestade.
Viver é deixar nas marcas
dos caminhos
um rastro de bondade.
É amar o espinho
e a felicidade.
Viver é dar a mão,
é sofrer a dor alheia
é ter perdão
a correr por cada veia
e o coração,
e a alma cheia de esperança
e os pés no chão.

Viver
é entender
que sendo tudo
nós não somos nada.
O pó da estrada
já foi gente petulante

e hoje é o pó da estrada.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PESCADA


O Juca juntou canoa,
a coragem, o arrastão.
Pôs raça dentro do peito,
pôs fibra dentro da mão.
Beijou a mulher e os filhos
e saiu pro mar adentro
com ideia de trabalhar.
Foi remando, foi remando,
e o mar balançava o Juca
feito rede balançando.
E os magros filhos do Juca,
mania de beira mar,
ficaram fitando o barco
do pai Juca se afastá.
Veio o sol, findou-se a lua,
outro sol já foi-se embora.
Outro sol deixou nas ruas
as carícias de outra aurora.
Outra lua dentro d’água,
vão-se os dias, mas vem nada.
E o pai Juca até agora
não voltou lá da pescada.
O mar se zangou por nada.
Pescador morreu no mar.
Foi buscar sobrevivência,
e com toda experiência
não se logrou de salvar,
Pai Juca morreu no mar.
Navegou pro mar adentro
e perdeu-se pelas águas,
tal e qual o sol se perde
quando a noite vem chegando.
Quem olhasse o mar depois,
veria dois,
o mar e o homem.
Veria o mar brincando
e o homem se balançando
nas águas verdes do mar.
Faltava vida no Juca,
mas sobrava paz no olhar.
O mar é igual a gente,
que se zanga de repente,
que se agita, que se encrespa,
que sacode, que se explode,
mas depois vem se humilhar.
Beija agora os pés dos filhos
tentando se desculpar.
O mar é feito o destino,
pra onde, bem feito gente,
rola o rio sem parar.
E se as flores dos caminhos
convidam pra descansar,
o rio logo responde:
Não posso, já vou pro mar.
O mar é feito a mulher
que consegue quando quer,
o que quer pelos caminhos.
Se agiganta pra vencer,
se venceu, fica mansinho
e espalha pelas areias
um muito de seus carinhos.
Mar de vida, mar de morte.
Mar que traz gente sorte
com dinheiro pra gastar.
Mar, caminho de navio
que esqueceu esse vazio
justamente no lugar
de onde alguém partiu chorando
com saudade de ficar.

Mar do Juca que dizia
no raiar de cada dia:

é doce viver no mar.

sábado, 26 de setembro de 2015

ENCONTRO


Quem poderia julgá-los
tão juntinhos!
Os nossos corações
que separados vagaram,
mas trazendo ensegredados
a tanto tempo
a ânsia de carinhos.
Quem poderia julgar
que nós sozinhos
ainda íamos passar
de braços dados.
De alma, sonho, amor
entrelaçados.
O mesmo amor que uniu
nossos caminhos.
Quem poderia julgar
que os nossos passos,
num constante divergir
nos seus compassos,
aos poucos nossas vidas
já juntavam.
Talvez, quem sabe?
muito intimamente,
se amassem,
tu e minh’alma contente
e os nossos corações
se namoravam.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

EU SOU O QUE SOU


Não exijam de mim
nada mais do que sou
nem que eu seja mais santo
ou até mais perfeito.
Eu sou o que sou,
nem melhor nem pior.
Tenho amor passarinho
batendo no peito
e acredito que a vida
vai de bem pra melhor.
Eu tenho um perdão
que é infindo em tamanho;
as mágoas do dia
se escoam no banho,
nos ralos da vida
com água e sabão.
Eu tenho a certeza
que a gente com raça
e até por pirraça
quebra os espinhos,
conquista a razão,
sacode a poeira,
rasteja no chão
mas levanta a cabeça
depois do tufão.
Eu tenho a certeza
que a força dos ombros
dá pra levar
dessa vida, os escombros
de tudo de bom
que ruiu por aí.
Eu traço uma meta
e faço a certeza
que dá pra sorrir.
Eu amo a beleza
que existe no feio.
Eu acho que o meio
pra gente seguir
é matar a tristeza
com um pouco de garra.
Eu faço uma farra
com um dedo de prosa.
Eu sou a cigarra
que canta, mas vivo
me encanto com a rosa
e sempre acredito
que o mundo amanhã
pode ser mais bonito.
Eu tenho defeitos,
cometo meus erros
mas sei que melhoro,
eu sei quando choro
por charme, bobices,
tolices, desdém.
Eu sei quando eu choro
com toda a razão.
Eu tenho aqui dentro
também coração
que espera carinho
que às vezes não vem.
Eu sei que aqui dentro
se esconde a ternura
que às vezes ninguém
consegue entender.
“Se eu tenho defeitos
como pode existir
amor no meu peito?”
Eu sou o que sou...
Um pouco de Deus
e um pouco bandido,
no entanto eu duvido
que alguém tenha amor
mais bonito que o meu.
Não julgue uma luz
pelo brilho que deu,
quem sabe a vista
está fraca pra ver
e o brilho é maior
que o que te apareceu?
Me agarro nas pedras
pra sobreviver.
Eu quero tua mão
pra me reerguer
e encontro empurrão
fazendo descer.
Ainda acredito
que possa nascer
a festa no peito
de tanto doer.
Depois do sufoco
é que vem a bonança
quem sofre é que aprende
crer na esperança.
Eu sou o que sou
e assumo o que faço.
Tem gente que erra
um passo na dança,
se embola no passo
e aponta que a culpa
é do outro que errou.
Eu sou o que sou
sou meio rebelde,
sou brabo, danado
e ando cansado
de me criticarem
“não faças assim,
inventa outro jeito”.
Será que o defeito
não é de me olharem
com certo despeito?
Eu sou desse jeito,
autenticidade.
Eu falo a verdade
tentando acertar.
Eu digo o que penso
sem demagogia,
sem medo de errar,
no entanto algum dia
se te machucar
não fiz por querer
falei por falar.
Eu sou o que sou
é o meu jeito de ser,
não posso mudar
pra te satisfazer
e deixar aqui dentro
eu mesmo morrer.
Eu sou o que sou

pra quem quer saber.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Roda Gigante


A roda gigante do parque
sobe e desce,
sobe e desce,
sobe e desce,
sobe e desce,
e as pessoas
passam bem junto
das estrelas
Depois passam sorrindo
rente ao chão;
e uma explosão
de gargalhadas acontece
durante o sobe e desce.
Eu queria que essa gente
compreendesse
que a roda gigante da vida
sobe e desce,
sobe e desce,
sobe e desce,
até parece a do parque,
até parece.
Eu queria que essa gente
compreendesse
e sorrisse quando andasse
lá por cima,
mas viesse sorrindo
se descesse.
Eu queria que essa gente
compreendesse
e caísse no samba,
e secasse esse pranto
e deixasse a dor num canto
que o programa é de cantar.
O nosso parque
foi montado na avenida
e quem souber viver a vida
nem vai ver a dor passar.
Eu queria que essa gente
compreendesse
que o cair não mete medo,
que o subir não tem segredo
que o descer vai ser brinquedo
pra quem crer no “levantar”.
Alegria, minha gente!
essa dor passa, cantando.
Quem tem flores nos caminhos
quem tem sol dourando o peito
decerto não tem direito
de viver se lamentando.
E alegria, minha gente,
é uma festa interior
feita de sorriso e paz,
quando o tédio vai chorando
pelas mãos do nunca mais.
Alegria, minha gente!
Leva o riso na subida,
trás o riso na descida
no sobe e desce contente.
Pois no meio da descida
nessas guinadas da vida
que se vê constantemente
quem teve muito juízo
já trás consigo o sorriso
pra subida novamente.
E quem andou pelos bancos
dessas escolas da vida
nem faz questão da subida
pois sabe que a vida traz.
Tanto faz andar lá em cima
ou lá em baixo, tanto faz.
O importante na corrida
é carregar na descida,

da subida a mesma paz.

terça-feira, 21 de abril de 2015

ÁRVORE

 

 

Com forças gigantes
rasguei essa terra
e sorri para o sol.
Que festa de escol!
Que mundo contente!
Eu não sei, francamente
porque tanta festa em
em todo o arrebol.
Com o tempo eu crescia
e trazia um segredo:
Eu seria gigante,
mais tarde ou mais cedo.
Eu esticava os meus braços,
e mais esticava.
E mais eu crescia,
e mais eu sonhava
espalhar meus galhos
lá em cima,
e estrelas buscava.
Pro mundo pensar
que as estrelas do céu,
eram flores que eu dava.
Um dia no entanto,
o meu sonho acabou;
o machado de um homem
no chão me jogou.
Mais tarde vivi
num salão requintado,
de tapetes e lustres;
onde as excelências
rodeavam-se a mim
pra fazer conferências.
Eu era mesa importante
de um salão elegante.
O tempo passou,
fui ficando esquecida.
Fui substituída;
nem salão requintado,
nem céu pra buscar.
Fui fogueira depois,
e o fogo que ardia
em meu corpo subia;
e tão forte subia,
como se pretendesse
pro céu me levar.
Acabou-se a fogueira.
Sou cinzas, mais nada.
Sou resto de pó
numa noite estrelada.

E eu quisera
buscar as estrelas,
e o céu todo buscar;
agora afinal,
vou subir,
vou voar,
vou fugir do revés.
Um menino que ainda
não sabe de estrelas,
me espalhou com os pés.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Limite




E agora seu moço
que você já chegou
lá no fundo do poço
no finzinho da estrada?
Mas que fundo que nada:
o fundo é mais fundo,
a dor é mais forte.
Tem gosto, tem cheiro
tempero da morte.
Você pensa que é o fundo,
e ainda que fosse...
Faz de conta
que tudo na vida acabou-se
não há sol, não há céu,
não há mais horizonte.
Não há brilho nos olhos
nem água na fonte
nada mais pra buscar,
nada mais pra cair.
E daí? E daí?
Serve o fundo de base
pra gente subir.
Serve o fundo de apoio
e o impulso há de vir;
vez em quando é preciso
de um tombo lição.
Serve o fundo de estágio
para reflexão.
Você vai cabisbaixo
distante, sem fala.
Você vai se arrastando
no bloco da vida.

Convida a alegria
pra dar uma pala,
convida a esperança
para vir colorida,
dispensa essa angústia
demais caprichosa,
e diz ao otimismo
para vir, sem cuidado.
Convida a ternura
para um dedo de prosa
e avisa a tristeza
“ingresso esgotado!”
Mas levanta esse astral.
Quando a vida da gente
se torna indecisa
é que a gente precisa
fazer carnaval.
E lutar, e vencer,
e provar
que é gigante.
Se é preciso crescer,
que se cresça o bastante
pra trazer as estrelas
na palma da mão,
a cabeça no céu
e os pés firmes no chão.
É possível, seu moço,
basta revolução.
Se já deu pra saber
tua estrela caída,
a receita pra vida
é determinação.