segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Cinzas



Depois de tanta graça e alegria
Se guarda a colorida fantasia
É mais uma ilusão que se termina
Foram três dias que passei em sonho
E na quarta-feira acordei tristonho
Sem confetes, sem tamborim, sem serpentina
Eram cinzas, o sol já ia alto,
Eu ainda sentia o cheiro no asfalto
De um carnaval que viveu, mas que passou
E foi tão breve como é toda folia,
Pois fiquei só nas cinzas de agonia,
Foi-se o amor da alma tristonha que sonhou.
Nas cinzas o folião acha do lado,
Ao despertar, o vidro meio usado
Do lança perfume, os tamborins, a fantasia
E a minha quarta-feira de tormento
Eu encontrei ao despertar no aposento
As minhas cartas e as suas fotografias
A minha vida era um eterno carnaval
Era o mais belo, o mais risonho festival
Que eu vivi, que desfrutei, mas terminou.
As cinzas são mais tristes, foi-se a festa,
Na rua só os vestígios que se restam
De um carnaval que as ilusões todas arrastou
Os presentes e a aliança que lhe havia dado
Estava tudo a mim endereçado.
Nem precisava, eu já sabia a minha sina,
Mandou-me um bilhete sem ternura
Só uma frase sem carinho e sem candura
Aqui entre nós tudo termina.
Ela tirou a máscara, eu tirei a minha.
Eu que julgava ser um rei, ela rainha,
Tirava as tristes vestes de palhaço
E o destino que é ingrato, que é cruel,
Me fez passar por este sórdido papel
Que ainda sinto a dor amarga do fracasso.
Hoje não ouço o repicar dos tamborins,
Não há na rua os pierrots os arlequins,
É quarta-feira, tudo volta ao natural,
Tudo volta a tanger as criaturas,
A tristeza, a agonia, as amarguras,
O dissabor que não se foi com o carnaval.