quarta-feira, 20 de julho de 2011

DE REPENTE

De repente
a gente quer
só ser,
sem gravata
e sobrenome,
quer andar
de pés no chão,
curtir a fome
de comer
feijão com arroz.
De repente
a gente
não pretende
ser mais dois,
de ser um
pra sociedade
e ser outro
interiormente.
De repente
a gente quer mandar
para os espaços
os abraços mentirosos
e viver só dos abraços
preciosos.
De repente
a gente
quer vestir a calça jeans
mais desbotada,
mais surrada
e sair sem compromisso
numa estrada
sem destino,
sem relógios,
bem menino,
sem cartões,
talões de cheques,
só um fundo de razões.
De repente
a gente quer viver
muito moleque
e subir pelas encostas
deslizar pelos barrancos
esquecendo
o isso é feio,
isso não deve.
De repente
a gente atreve
e se despede da vaidade,
fica nu de preconceitos
sem pensar
nas conseqüências
esquecendo
o que é direito
mas que é contra
a consciência.
De repente dá vontade
de sair pela cidade
libertando prisioneiros
e prendendo quem não é,
que fez tantas falcatruas
mas virou nome de ruas,
que errou com tanta fé
que deu certo,
infelizmente.
De repente
dá vontade
de curtir um lampião,
um sertão, uma palhoça
pois o peito é quase roça,
dá de tudo,
solidão, dá saudade,
dá perdão,
cada penca de tristeza
que arrumada sobre a mesa
dá banquete
pra um milhão.
De repente
dá vontade
de comer fruta madura
pendurada ainda no galho.
De repente
dá desejo
de dizer para o trabalho:
vou de férias,
de licença
me cansei dessa doença
me curei, não quero mais.
De repente, de repente
dá saudade
de uma paz,
de deitar num colo amigo
e entregar-se nesse abrigo
sem nenhuma resistência.
De rasgar vossa excelência,
o doutor, o protocolo
e sair de colo em colo
sabe? assim
feito criança
tudo é certo,
arte pura
e na dança da ternura
libertar os passarinhos.
De repente dá vontade
de ser livre
sem cobranças,
de ser bem pequenininho.
De rever as esperanças
de voltar,
e estar na frente
e pisar na velha estrada,
de ser nada.
Simplesmente,
de repente
dá vontade
de ser gente...

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