E a menina
com
os olhos em brasa
pediu-me
uma esmola.
Na
idade de casa,
na
idade da escola.
Da
cama quentinha,
bonecas
e dengos
pediu-me
uma esmola,
e
eu disse que não.
Também
tanta gente
suplica
uma esmola,
também
tanta gente
responde
que não.
Mas
dei alguns passos,
voltei
à razão.
Será
que quisera
comprar
ilusão
quem
sabe um sorriso,
quem
sabe um bombom,
quem
sabe esperança,
pipoca,
um pão,
quem
sabe um sorvete?
E
eu disse que não.
Voltei
e a encontrei
no
mesmo lugar.
A
mão estendida
a
gente a passar
e
na idade da escola,
me
dá uma esmola.
Senti
a emoção
me
tomar por inteiro
e
uma lágrima quente
sangrar-me,
doída.
Eu
vi a esperança
de
mão estendidas
pra
sobreviver.
A
falta de tempo
é
que impede a bondade?
É
fora de moda
a
solidariedade
a
pressa é desculpa
pra
gente não ver.
Estampava
a menina
o
retrato da fome,
vestido
sujinho,
sem
nada nos pés.
Qual
é o seu nome, menina
quem
és?
Que
idade tu tens?
Não
sei, tenho dez
ou
quem sabe, duzentos.
Passei
pela vida
por
muitos tormentos,
por
tanto chorei
que
a idade não conta
e
meu tempo eu não sei.
Brotaram-lhe
gotas
nos
olhos azuis,
o
vermelho dos olhos
eram
réstias de luz
do
incêndio no peito,
fogueira
da fé.
Na
idade da escola,
me
dá uma esmola
me
diz como é.
Me
ensina a proeza
que
existe pra ver e saber
da
beleza
de
sobreviver.
Bebi
do seu pranto,
vivi
do seu tédio.
Quisera
um sorriso
lhe
dar por remédio,
não
dá pra sorrir
enquanto
um alguém
suplicar
uma esmola
enquanto
um alguém
não
tiver onde ir.
Quem
trouxe teu prato?
Não
sei foram tantos.
Eu
sei, eu garanto
fomos
todos nós.
Os
braços cruzados
os
tempos minguados
tão
juntos e a sós,
cavamos
o abismo
com
orgulho e egoísmo
do
muito de nós.
Me
dá tuas mão, menina
levanta.
No
peito da gente
a
certeza não canta
nem
grita a grandeza
se
a gente não quer.
Me
dá tuas mãos
e
inventa uma farra
e
junta esta festa
com
toda esta garra
e
faça-as de escudo
pra
dor que vier.
Me
dá tuas mãos
pra
girar corrupio,
na
ponta do pé
pega
a estrela madura,
qual
fruta brilhando
na
beira do rio
que
a gente projeta
se
lança e segura.
Me
dá tuas mãos
tão
pequenininhas
elas
vivem um tempo
de
colar figurinhas,
de
pôr mil anéis.
Abrir
os bombons,
distorcer
os papéis
curtir
os sabores,
pintar
os momentos,
colorir
pensamentos
de
todas as cores.
Embale
teus sonhos,
embale
as bonecas.
Não
cante, menina
canções
de ninar.
Os
homens já dormem
terão
que acordar.
A
idade que tens
é
de quem pinta e borda.
desata
essa forca
estica
essa corda
permita
se dar.
A
corda da forca
é
também pra pular.
A
menina fitou-me
olhar
de criança
parece
que o pranto
regou-lhe
a esperança
e
acabou com o incêndio
que
havia no peito.
Arejou
os cabelos,
na roupa
deu jeito,
com
as costas da mão
enxugou
sua mágoa
e
saiu saltitando
pelas
poças d’água.
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