Seca, não chove
nem nada.
O sol causticante
crucia a moçada.
O gado emagrece
e os ossos lhe saltam
na pele cansada.
Os olhos no fundo,
Um mundo distante
Tão perto do mundo
Tão longe do nada.
Os pássaros voam
por outras paragens.
Os rios secaram.
E das verdes ramagens
às margens do rio
apenas restaram,
arcados de medo,
os galhos despidos
dos arvoredos.
É seca total.
O magro cachorro
parou de latir.
A vaca leiteira
morreu no curral.
É a vida vai mal.
A velha viola
ficou esquecida
na tosca parede.
E um monte de rede,
com sede da vida
de alguém que sonhava
e feliz se embalava
nos tempos de paz,
Jaz desolada num canto,
Ninguém sonha mais...
Seca, seca
não chove, nem nada,
e a estrada se perde
na vida empoeirada.
Os meninos definham
e a pobre Maria,
com o rosto marcado
de tanta agonia,
de tristeza e de dor,
ainda tem muito amor
para dar pra quem ama.
Chama o marido,
coitado, sofrido,
e murmura baixinho
com todo o carinho
e ternura na voz:
“Tem calma José
tem paciência José
que Deus lembra de nós.
Vem e reza um bocado
e conta pra Deus
que o sertão tá danado.
Fala José, explica José.
Quem sabe Ele escuta?
Fala com Ele José, dessa luta
que Ele vai ajudar.
Pede José,
mas pede do fundo
me ajuda a rezar.”
E José responde nada.
Fita o céu
calmo e profundo
e uma lágrima é rolada
e murmura num segundo
uma prece amargurada.
Toda a alma põe na prece
e José também se esquece
da desdita, da agonia.
Traz Maria pro seu peito
e acarinha-lhe de jeito.
Depois beija-lhe de gosto
tantas rugas no seu rosto.
Nasce um riso entre as agruras,
e as ternuras se prolongam
quase que infinitamente.
Eis, porém, que de repente
grossas nuvens se mostraram,
o sol se escondia,
os trovões rebimbavam
e a chuva caía.
A chuva caía, caía, caía.
A chuva caía na terra cansada
e até ressequida.
Na terra enjoada,
na terra sofrida.
A chuva caía, caía, caía
caía de graça.
Maria da Graça
Olha a roupa na corda!
Maria, depressa,
encoste a janela!
E um riso tão dela
se abre na face.
E a alegria renasce.
É a gente que corre.
É o tédio que morre.
É a chuva caindo
É a gente sorrindo.
Meu Deus! Como é lindo.
E tudo lá fora
parece contente,
E a gente tão gente,
tão simples, tão gente,
tão pura, tão gente,
tão pobre, tão gente,
de braços cansados,
tão magros, tão seus
dando graças a Deus.
Excelente amigo. Amei.
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