segunda-feira, 1 de julho de 2024

Rua dos sonhos


À tardinha, na minha rua,

a vida é de qualidade;

tem gente vivendo a vida

com tanta simplicidade.

Meninas brincam de roda,

moleques jogam pião,

há um grupo no portão,

falando de futebol.

E três ou quatro meninas,

queimadas de muito sol,

falam da vida, da sorte,

da esperança, da alegria,

a matemática mata,

mas que inferno,

e a geografia?

E o pipoqueiro aparece

lá no princípio da rua.

O sol cochila, adormece,

é cheia a fase da lua.

E a lua linda prateia

a rua, serenamente.

Quem dera que a lua cheia

desse filhotes pra gente

e o pipoqueiro persistente

com a roupa branca, engomada,

e a meninada que assiste

desponta em flor na calçada

Belém, blém, blém, blém, belém

Pipoca doce, salgada.

E a velhinha faz crochê

em uma cadeira e balança

dá gosto da gente ver

a habilidade na trança,

Borda a saudade de verde

pra confundir com esperança.


O rio passa sereno

sob a ponte de madeira,

na vida a pressa é um veneno,

vai passar a vida inteira.

É necessário prudência

na queda da cachoeira.


Na minha rua se encerra

uma ternura invejada,

mas minha rua é de terra,

de chão batido, coitada!

Coitada, mas que coitada?

Mas que coitada, que nada.

A minha rua é encantada,

a minha rua tem vida,

rosas, jardins, margaridas

desabrocham nos quintais;

mangas, caquis, araçás,

goiabas brancas, vermelhas,

chão batido, cor de telha.


A minha rua é vermelha

tal qual sangue que corre,

tal qual tarde que morre,

tal qual vinho que escorre,

tal qual tarde que morre

depois de um dia de sol.

O sol que deixa vermelho

o céu de todo arrebol.

Mas quando enfim anoitece

e a rua é toda sossego,

entre os murmúrios de prece

há sussurros de chamego.

Depois a rua adormece.


É paz em cada aconchego.

E a paz com tudo realça

e surge um anjo encantado

cobrindo a rua descalça

com um manto todo estrelado.

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